O ex-ministro da Fazenda, o economista paraibano Mailson da Nóbrega, disse em entrevista exclusiva ao Jornal da Paraíba, que o aumento de gastos obrigatórios do Governo Federal pode ‘inviabilizar’ a administração do país. “Os brasileiros precisam se assenhorarem do risco”, afirmou.
Na avaliação dele, o principal problema da economia são as despesas obrigatórias, além dos entraves que impedem o desenvolvimento e a falta de coragem de autoridades para implementarem uma redução dos gastos. “Tá na cara que vai dar errado, por isso estamos vendo a redução ou encurtamento do orçamento para áreas essenciais”, disse.
Mailson lembrou que, atualmente, 96% dos gastos primários têm natureza obrigatória, como Previdência Social, funcionalismo, além de despesas com saúde, educação e programas sociais, o que pode inviabilizar a destinação de recursos para áreas essenciais já no próximo governo.
“Em 2027, o espaço para gastos primários do Governo Federal será ocupado por gastos obrigatórios, então não vai sobrar espaço para nada, fica inviável. Isso tudo leva o Brasil a uma crise financeira”, disse. Na avaliação de Mailson, apenas o ajuste fiscal não é a solução, já que o país precisa diminuir as despesas obrigatórias.
Apesar do problema, o ex-ministro reconhece que fazer isso não é fácil e entende que o agravamento de uma crise poderá fazer com que todos entendam a necessidade de conter os gastos. “Cortar programas sociais é politicamente sensível”, disse.
‘Capitalizar na crise’
Mailson da Nóbrega citou a ‘estagnação’ da transição econômica brasileira como sinal de que os rumos da economia não são bons, já que parte da população brasileira “estagnou” socialmente depois de ter alcançado a chamada “renda média”. Isso ocorre, segundo ele, em razão de erros na condução da política econômica.
“Por que? Porque a etapa seguinte ela depende, essencialmente, da tecnologia, da invoação, da convicção de que você tem um equilíbrio macroeconômico sólido. E isso depende de um conjunto de fatores, como educação de qualidade, infraestturura adequada, ambiente de negócios seguro e segurança jurídica”, afirmou.
Na opinião de Mailson, a crise poderá ser o momento de, ‘enfim’, mobilizar a sociedade em torno de reformas que de outra maneira seriam bloqueadas. Ele citou como exemplo a ‘receptividade’ da população para reformas que ocorreram em outro momento difícil: no início da ditadura militar, com a criação do Banco Central e reformas administrativa e trubutária.
Para o economista paraibano, além da insustentabilidade maior, é preciso um olhar para a redução da produtividade do país. “Quando isso virar um pânico, a bolsa despencar, os juros futuros subirem e as pessoas ficarem preocupadas com seu emprego, as pessoas vão entender que o Brasil tem futuro, mas tem que consertar a economia [a economia]”, disse.
Assista à entrevista a seguir
O debate sobre o orçamento acontece em Brasília. No momento, com divergências entre o Poder Executivo, que busca aumentar suas receitas, e o Poder Legislativo, que cobra corte de gastos mas não tem demonstrado interesse em reduzir as próprias despesas.
Com jornaldaparaiba.com.br